segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Bacharelado X Licenciatura: Não se trata de segmentar a categoria, mas sim, de valorizar uma formação

A Cesar o que é de Cesar.

Nobre amigo, Prof Ernani Contursi


"Em primeiro lugar, para marcar meu posicionamento, mesmo porque não sou de ficar em cima de muro, deixo claro que não coaduno com a atual política 'hugochavista' implementada pelo CONFEF, que faz Montesquieu revirar no túmulo. Um dos princípios basilares da democracia é a alternância do poder, sem a qual se instituem forças hegemônicas que negligenciam o bem coletivo em prol de, a todo custo, permanecerem com os mandos e desmandos.
E que não se venha falar que a categoria precisa destes monarcas para crescer, pois, isso agride até mesmo àqueles menos privilegiados de inteligência. Foi exatamente com esse discurso que as forças autoritárias realizaram a falácia da 'revolução'. Tudo em nome de um povo que, supostamente, não sabia escolher seus representantes.
Mas, apesar dessa manifesta aversão, não posso deixar de registrar, mais uma vez, que a separação do curso de Educação Física em licenciatura e bacharelado se deu através da Resolução CFE nº 03 de 1987, ou seja, antes mesmo da regulamentação da profissão e, obviamente, quando ainda não existia o Sistema CONFEF/CREF.
O que ocorreu, em 2002, com as resoluções 01 e 02 do CNE foi o entendimento, a partir do belíssimo parecer CNE 09/2001 (vale muito a pena ler), de que formar um professor para atuar na educação básica é completamente diferente de formar um profissional para o mundo não escolar, e isso não é um privilégio da nossa profissão. Formar um professor de Biologia é diferente de formar um Biólogo;  formar um professor de Física é diferente de formar um Físico; e, e com isso concordo, formar um professor de Educação Física para atuar na educação básica é diferente de formar o profissional para atuar nos demais campos.

Não se trata de segmentar a categoria, mas sim, de valorizar uma formação que sempre foi relegada a segundo plano. Nossos cursos sempre foram muito voltados para o desporto, pelo menos na minha época, e a formação de educador ficava a cargo de meia dúzia de disciplinas ditas pedagógicas. A separação era tão grande, e aí sim tratava-se de separação de fato,  que as disciplinas da área pedagógica eram ministradas pela Faculdade de Educação. Ou seja, não tínhamos competência, nem mesmo no ensino superior, para formar educadores.
 
As resoluções citadas visavam corrigir essa aberração, dando maior importância a formação de professores para atuação no mundo escolar. O fato da proposta ter sido deturpada e adequada aos interesses do poder econômico não invalida o objetivo para o qual nasceram. O que precisamos, em minha opinião, é fazer valer de fato e de direito, o que estabelece a lei: dois currículos autônomos. E aí meu amigo, não podemos confundir currículo com grade curricular. Mas essa discussão fica para outro momento, embora urgente.

Em síntese, não foi o sistema CONFEF/CREFs, tampouco foram as instituições privadas que criaram os cursos de Bacharelado em Educação Física. Eles até se aproveitaram disso, mas não foram os pais da criança.

Precisamos aprofundar essa discussão".

Abraços fraternos,
Roberto Corrêa.....RJ

7 comentários:

  1. rever os cursos melhorar as grades curriculares e unificar as resoluções pois para mim essas separação tem jogo de interrese pois como pode alguem que cursa ed fisica estar num patamar melhor ex licenciado e bacharel e o os provisionados o que me dizem?

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  2. Eu não concordo. A NOSSA EDUCAÇÂO FÍSICA é diferente de uma formação pra Biólogo ou Físico.
    Na verdade seríamos extremamente privilegiados de termos uma única profissão tão abrangente.
    Até porque, a faculdade não nos prepara pra muita coisa, e é aí que o CONFEF com sua "brilhante" conclusão incide: numa formação capenga. Desculpe-me pelas palavras mas a formação está capenga.

    Um TRABALHADOR (chamar de profissional remete a outros autores direitosos) da E.F. precisa de Didática pra trabalhar no SUS e dentro da academia de ginástica ou clubinhos, mas somente é dado as noções de didática na formação em Licenciatura. Da mesma forma, é importante que trabalhemos conteúdos teóricos na escola mas com um aporte teórico que só o Bacharelado dá.

    Então nós estamos formando trabalhadores da E.F. mais incompletos do que antes. Independente de qualquer coisa, volto a dizer, a faculdade nos dá apenas uma base e hj em dia não há mais como sobreviver no mercado de trabalho sem uma especialização pra aprofundar, seja pra Educação, seja pra Saúde, seja pro Mercado de Academias de Ginástica, laboratorial, etc...

    Nosso curso enfraqueceu, nossa profissão enfraqueceu por puro interesse corporativo besta.
    Não basta ler a lei, tem que interpretar e ver o que está por trás disso...

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    1. Concordo plenamente com este comentário, principalmente com os dois últimos parágrafos e suas conclusões.

      Diria ainda; é mais fácil compararmos a E.F. aos profissionais da Medicina ou Odontologia. A formação principal é dado no decorrer do ensino universitário (Clinica Geral), para nós, o embasamento do que é esperado para os profissionais que atuariam nas áreas acadêmicas (Licenciatura) ou clubes, academias, e etc (Bacharelado)... e posteriormente concluindo com as residências e especializações, para nós com cursos de pós graduações, onde até então, nossos universitários formandos, já teriam melhores informações para a escolha do seu destino profissional.

      Parabéns ao colega que abordou com muita propriedade, as dificuldades do que nossos futuros profissionais encontrarão neste confuso ramo profissional.

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    2. Amigo (a),
      Em primeiro lugar me sinto feliz de ter gerado, com meu posicionamento, esse debate. Pena que o (a) colega não tenha se identificado para que possamos travar uma discussão acadêmica e profunda de forma mais íntima, conhecendo-nos mutuamente. Mas isso não invalida seu comentário e, em respeito ao mesmo, resolvi responder.

      Com algumas questões concordamos: nossa formação é capenga; o curso superior não nos prepara para muita coisa; é fundamental a realização de uma ou mais especializações para enfrentarmos o mundo do trabalho; precisamos, mais do que ler, interpretar a legislação. Nesses convergimos.

      Me permita porém, discordar de outras questões:
      1. quando afirmei que a separação dos cursos (bacharelado e licenciatura) não se deu por conta de ações do CONFEF ou das IES particulares, não o fiz em defesa nem de um nem de outro, mesmo porque não afino com a política do Conselho Federal e atuo exclusivamente em instituições públicas. O fiz pura e exclusivamente por uma questão histórica e temporal: foi a Resolução CFE nº3 de 1987 que criou os cursos de Bacharelado, antes do CONFEF existir, e essa discussão, no Rio de Janeiro, nasceu na UFRJ (INSTITUIÇÃO PÚBLICA). Eu era diretor do Centro Acadêmico na época e como estudante, fui contrário à criação do Bacharelado. A mudança na minha visão se deu pelo meu amadurecimento profissional, por ter estudado currículo e formação profissional e por ter me aprofundado na área da Educação Física Escolar.

      2. Quando você afirma que nossa formação é diferente da formação de um Biólogo e de um Físico, entendo tal diferença quanto aos conteúdos de cada área e aos campos de atuação. Quanto ao compromisso ético do educador, considerando o professor da Educação Básica, seja de Física, Biologia ou Educação Física, onde está a diferença? Muitas vezes, é exatamente por nos acharmos diferentes que sofremos os estigmas e marginalizações dentro da escola. Somos educadores, responsáveis pela formação integral de crianças e jovens e temos um objeto e conteúdos específicos a serem trabalhados com nossos alunos, assim como todos os demais colegas das outras áreas. E aí, reforço meu argumento: se nossa formação é capenga, o que já afirmei concordar com você, é ainda muito mais capenga quando falamos de formação do educador para atuar na escola. Não sei se sua área de atuação é a escolar, mas se for, acredito que concordes comigo: não dá para formar um professor de educação básica, somente com cursos de especialização. Essa formação deverá ser muito mais robusta na graduação.

      3. Por fim, e já pedindo desculpas pela mensagem longa, o parecer 9/2001 do CNE que citei na mensagem, foi elaborado pelo Professor Jamil Cury, reconhecidamente um grande educador. Nesse parecer, não são citadas áreas de conhecimento específicas. Ele trata de uma formação geral do professor da escola básica diferenciada da formação daquele que atuará extramuros escolares. O parecer, concordando ou não com ele, é extremamente bem elaborado e faz uma discussão profunda sobre essa formação. Não há ali, nenhum interesse escuso. É a visão de um educador que dedicou sua vida a essa causa. Lógico que podemos discordar dele e, ao discordarmos, devemos imergir ainda mais na discussão. Mas não dá para ver a teoria da conspiração em tudo. Não sou ingênuo, sei que muitas IES particulares e PÚBLICAS TAMBÉM (vide como se deu a separação dos cursos em algumas delas) se aproveitaram da situação para atendimento a outros interesses. Mas penso que o tema mereça um pouco de reflexão para que não empenhemos uma luta que poderá nos estigmatizar, ainda mais, perante às outras áreas de conhecimento. Se viermos a fazê-lo, que o façamos seguros e conscientes de que isso realmente será melhor para a NOSSA EDUCAÇÃO FÍSICA. Insistentemente, precisamos discutir um pouco mais.

      Muito obrigado pela possibilidade do debate.
      Abraços fraternos,
      Roberto Corrêa.

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  3. Caro Colega,
    Entendo perfeitamente a o que você explicou em relação a valorização da nossa profissão, porém, nós Bachareis em Educação Física, ficamos em desvantagem em frente a muitos concursos, não haver concurso para Bachareis, e sim licenciatura plena, existem muitas áreas da qual podemos atuar, mas eu pergunto, onde esta CONFEF/CREF que não atua revindicado para que surjam vagas ou concursos para os profissionais Bachareis? Temos nossa formação para a área da saúde mas vejo que os concursos só estão destinados aos fisioterapeutas, onde estão os profissionais em saúde BACHAREIS EM EDUCAÇÃO FÍSICA? Pelo que esta em meu conhecimento estamos sofrendo uma perda de espaço por que na saúde os nossos "amigos" fisioterapeutas vão se metendo em nossa área e CONFEF/CREF fica parado asseitando tal situação. Sem mais

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  4. Buenas!
    Não concordo com a divisão. Pois o acadêmico opta pelo ingresso numa das formações sem o conhecimento de qual área seria de seu interesse ou por ser o único curso oferecido em sua região. A opção pela área de atuação deveria ser feita após a conclusão do curso, onde o formado buscaria a especialização adequada. Acredito que não é racional formar um profissional de educação física com o conhecimento parcial sobre sua área, pois um professor de escola precisa do conhecimento dos princípios de treinamento, por exemplo, da mesma forma que no clube o profissional precisa da didática para incrementar seu trabalho. Afinal de contas, a matéria prima será a mesma pessoa que cursa a escola ou treina no clube. Confesso que não estudei a fundo a questão que determinou a divisão, um erro, porém, na prática não visualizo benefício algum para a qualidade da formação do Educador Físico/Profissional.

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  5. Bom dia colegas.

    Para resumir essa discussão que se "arrasta" até hoje, só posso fazer algumas colocações:

    1- a Lei 9696/98 que regulariza nossa profissão, ou seja, que nos dá AMPARO LEGAL para trabalharmos, não delimita ações profissionais do Educador Físico, mas fala que podemos ATUAR EM TODOS OS AMBIENTES PERTINENTES AO DESPORTO E ATIVIDADE FÍSICA (no geral);

    2- Essa separação somente beneficia as universidades e não os profissionais de EF;

    3- Analisem bem o quadro dos estados de Goiás, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, onde o Ministério Público Federal realizaou uma intervenção junto aos CREF´s, obrigando-os a retirar das cédulas de identidade profissional a área de atuação "EDUCAÇÃO BÁSICA", por ser completamente ilegal.

    Bom, esses são apenas pequenos detalhes que mostram claramente o quanto sofremos devido ao mercantilismo e conflito de interesses existentes no nosso país.

    Paz!

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